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TRADUTOR

Monday, July 04, 2011

MARINA TSVETAEVA






A CARTA

Assim não se esperam cartas.
Assim se espera - a carta.
Pedaço de papel
Com uma borda
De cola. Dentro - uma palavra
Apenas. Isto é tudo.
Assim não se espera o bem.
Assim se espera - o fim:
Salva de soldados,
No peito - três quartos
De chumbo. Céu vermelho.
E só. Isto é tudo.
Felicidade? E a idade?
A flor - floriu.
Quadrado do pátio:
Bocas de fuzil.
(Quadrado da carta:
Tinta, tanto!)
Para o sono da morte
Viver é bastante.
Quadrado da carta.



(Trad. Augusto de Campos)


À VIDA


Não roubarás minha cor
Vermelha, de rio que estua.
Sou recusa: és caçador.
Persegues: eu sou a fuga.
Não dou minha alma cativa!
Colhido em pleno disparo,
Curva o pescoço o cavalo
Árabe -
E abre a veia da vida.


(Trad. Haroldo de Campos)


À VIDA


Não colherás no meu rosto sem ruga
A cor, violenta correnteza.
És caçadora - eu não sou presa.
És a perseguição - eu sou a fuga.
Não colherás viva minha alma!
Acossado, em pleno tropel,
Arqueia o pescoço e rasga
A veia com os dentes - o corcel
Árabe



(Trad. Augusto de Campos)


Silêncio, palmas!
Cessa o teu apelo,
Sucesso!
              Um só palmo:
Mesa e cotovelo.
Cala-te, festa!
Cotação, contém-te!
Cotovelo e testa.
Cotovelo e monte.
Juventude - rir.
Velhice - aquecer.
Que tempo pra ser?
Para onde ir?
Mesmo num tugúrio,
Sem uma pessoa:
Torneira - murmúrio,
Cadeira - ressoa,
Boca recomenda
- Mole caramelo -
Mais uma comenda
"Pelo amor do Belo".
Se vocês soubessem,
Longe ou perto, gente,
Como esta cabeça
Me deixa doente -

Deus numa quadrilha!
A estepe é vala,
Paraíso - ilha
Onde não se fala.
Macho - animal,
Dono - vender!
A Deus é igual
O que me der
(Venham de vez
Dias a juros!)
Pata a mudez -
Quatro muros.


(Trad. Augusto de Campos e Boris Schnaiderman)


NEREIDA


Nereida! Onda!
Ela. Eu. Nós dois.
Nada além de
Onda ou náiade.
Teu nome, tumba,
Reconheço, onde for,
Na fé - o altar, no altar - a cruz.
O terceiro, no amor.

(Trad. Augusto de Campos)



Abro as veias: irreprimível,
Irrecuperável, a vida vaza.
Ponham embaixo vasos e vasilhas!
Todas as vasilhas serão rasas,
Parcos os vasos.
         Pelas bordas - à margem -
Para os veios negros da terra vazia,
Nutriz da vida, irrecuperável,
Irreprimível, vaza a poesia.


(Trad. Augusto de Campos)

Tira-gosto