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TRADUTOR

Tuesday, July 23, 2013

EL NUEVO




El Nuevo
tem hábitos de lua
& ginga de dragão
seu nome se dissemina em segredo
pelos sinistros abismos de Urizen
onde habita aquele eremita
da imensidão

El Nuevo
aprendeu nos penhascos
onde nasceu a verdadeira razão
que ensina pelo ar
como quem ilude
a própria paixão

El Nuevo
foi feito no mar
& devora seres bizarros
adicionando pequenos rasgos
de beatitude marinha
a cada refeição

El Nuevo
se distende
em solidez amável
& surpreende-se
frente ao trânsito imutável
dos amores que se sucedem
como animais de estimação

El Nuevo
planta suaves flores de chocolate
em grossas caixas de papelão
ele as rega com romances difíceis
& aduba com ilusão

para aparar bem os carinhos espinhosos
a poda é feita
com uma tesoura de sofrimento cru
& um alicate sem qualquer emoção

El Nuevo
é da gota serena
& vive com uma gata preta da gema
gata que tem o domínio de artes minúsculas
& é por graça linda & toda cheia de astúcias

mas

la Gata Nigra de El Nuevo
não tem coração!
é como a amante ilustre
de um rei que te odeia
sem qualquer razão

la Gata Nigra
é o olho do diabo
é a língua da guerra
é o monstro branco
o emir underground
a própria corrupção

El Nuevo
porém

é pau de dar em doido
& nunca perde a ocasião
delicia-se em viagens caóticas
fuma ervas exóticas
bebe de fazer medo ao cão

El Nuevo
agora é o dono da situação








Marcello Chalvinski


[Jardim das Maravilhas - Brancaleone Editores - 2013]
Arte: Tom Colbie

Wednesday, July 03, 2013

O FILHO DO SÉCULO



Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa "Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos vôos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos,
Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.




Murilo Mendes

Tira-gosto