Esta sombra
A contrapelo
Do escalpo
Ao cerebelo
Me rebelo:
Como quem sente
Gelo nas veias
Te chamo vento
Deus das areias
Como quem teme
Saber o que ousa
Ser sem ouvidos
Me chamo coisa
Ouve essa voz
De lâmina cega
Essa faca atroz
Atrás do que nega:
— Podem os pedaços
Deixados no caminho
Plasmarem outro ser?
— Fruto constelado
Que ignore a queda
E assuma seu aço?
— Quem seria a serpente
A voar entre as dunas
Feliz em suas plumas?
— Lembraria do barro
Que o pariu na estrada
Esse gêmeo do nada?
A sombra me nega
Seu verbo e se vai.
Afundo lívido em
Meu álibi:
Alívio de quem
Nada sabe.
Poema: Fernando Abreu
Arte: Comicfan
Arte: Comicfan