Saturday, April 28, 2018
Monday, April 16, 2018
A EDUCAÇÃO PELA CHUVA
de agulhas
é preciso fixar os olhos
& transfixar as alturas
a chuva ensina
iluminura-se
(lições de chuva )
convectiva
orográfica
habilita à rigidez dos telhados
umidade
enciclopédicas loucuras
&
de oxidação
sabe a chuva
hidrostática
de saber-se rala
sabe também
o fazer-se impura
sabe a chuva
sabe furacão
tem a faculdade inacessível do dilúvio
& a universidade aberta da paixão
leciona pluviometria
& lasciva precipitação
é preciso conhecer
o seu estar para acupuntura
a sua transparente aventura
& deixar-se levar
(sem amargura)
Marcello Chalvinski (Temporal - 2005)
Foto: Images do Google
Labels:
Chalvinski,
chuva,
Educação,
Poesia,
temporal
Tuesday, April 10, 2018
HEBDÔMADA VERTICAL
estou com você caindo do céu
entre lagartos & gritos
para que não fiques aflita
ordeno a ditongos & canivetes
que preparem ramalhetes
de proparoxítonas
duendes & magos
na ortodoxa ortoépia dos mitos
ao meu sinal ábdito
recitam versos-delitos
estou com você caindo do céu
entre lagartos & gritos
o escuro assombroso
da nuvem abaixo
cobre a fantasmagórica
luz da cidade nobre
as casas pobres dos operários
para que não fiques aflita
ordeno a ditongos & canivetes
que preparem ramalhetes
de proparoxítonas
duendes & magos
na ortodoxa ortoépia dos mitos
ao meu sinal ábdito
recitam versos-delitos
estou com você caindo do céu
entre lagartos & gritos
o escuro assombroso
da nuvem abaixo
cobre a fantasmagórica
luz da cidade nobre
as casas pobres dos operários
tombam sobre os jardins ósseos
na escuridão triste
das lâmpadas despedaçadas
mas
cala tua mágoa
a enxurrada posta de pé pelo vento
reduz a distância até os girassóis
vamos velozes por entre os raios
que se engastam
à trombeta dos trovões
lá embaixo
há suaves flores tóxicas
há macios espelhos d´água
há telefones & capim-limão
somos o que vai entre a chuva
perfurando a ventania
em bilhões de orifícios diagonais
atravessaremos juntos
as vidraças do temporal
& solveremos o asfalto das recorrências
infiltrando múltiplas
& sutis incoerências
penetraremos os esgotos
& rasgaremos ávidos
os frios lençóis freáticos
desaguaremos no oceano
meu amor enigmático
& voltaremos como milhões
para este ar de terror & maravilhas
estou com você caindo do céu
entre lagartos & gritos
Marcello Chalvinski - Temporal - Brancaleone Ed. 2005
na escuridão triste
das lâmpadas despedaçadas
mas
cala tua mágoa
a enxurrada posta de pé pelo vento
reduz a distância até os girassóis
vamos velozes por entre os raios
que se engastam
à trombeta dos trovões
lá embaixo
há suaves flores tóxicas
há macios espelhos d´água
há telefones & capim-limão
somos o que vai entre a chuva
perfurando a ventania
em bilhões de orifícios diagonais
atravessaremos juntos
as vidraças do temporal
& solveremos o asfalto das recorrências
infiltrando múltiplas
& sutis incoerências
penetraremos os esgotos
& rasgaremos ávidos
os frios lençóis freáticos
desaguaremos no oceano
meu amor enigmático
& voltaremos como milhões
para este ar de terror & maravilhas
estou com você caindo do céu
entre lagartos & gritos
Marcello Chalvinski - Temporal - Brancaleone Ed. 2005
Monday, April 02, 2018
EU QUE SOU FEIO, SÓLIDO, LEAL
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa de um café devasso,
Ao avistar-te, há pouco fraca e loura,
Nesta babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorrestes um miserável,
Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, sudável.
«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.
Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez que não o suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.
...
Soberbo dia! Impunha-me respeito
A limpidez do teu semblante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar o teu peito.
Com elegância e sem ostentação,
Atravessavas branca, esbelta e fina,
Uma chusma de padres de batina,
E de altos funcionários da nação.
«Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!»
De repente, parastes embaraçada
Ao pé de um numeroso ajuntamento,
E eu, que urdia estes frágeis esbocetos,
Julguei ver, com a vista de poeta,
Um pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.
E foi, então que eu, homem varonil,
Quis dedicar-te a minha pobre vida,
A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.
Poema: Cesário Verde
Arte: Tom Colbie
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