Todo o vaporoso da visão abstrata não interessa tanto
como a realidade formosa da bela mulher a quem amamos.
Álvares de Azevedo
A Dama, com um véu de água:
– O livro dos Eternos foi reaberto.
O Palhaço:
– Há um mundo subterrâneo abaixo dos abismos primordiais.
O Enxadrista de olhos vermelhos:
– Foi lá que Polydegmon, o grande hospedeiro, construiu seu labirinto.
A Mulher-que-passa:
– Uma nova vida! É disso que se trata.
O Enxadrista de olhos vermelhos:
– Nada é igual quando algo muda
O Bêbado:
– Nada é igual, nada é igual...
El Nuevo:
– Vê aquela bela: as luzes cristalizam a curva morena do corpo.
É como um bailado que brilha na chuva. O mundo fica desfocado ao redor.
O Enxadrista de olhos vermelhos:
– Coloca a razão ao centro desse céu fictício.
A Dama com um véu de água:
– Eis o movimento fixado na memória.
O Palhaço:
– Novos julgamentos foram engendrados.
A Dama com um véu de água:
– Ergue-se do mar o solo onde a poesia reconstrói Sevilha.
O Homem-que-passa:
– Uma nova vida. É disso que se trata.
El Nuevo:
– Povoa a própria vida de amores possíveis.
A Dama, agora sem véu:
– Nada é igual quando algo muda.
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Excerto de "Don Juan & o Jardim das Maravilhas"
Marcello Chalvinski - EDIÇÃO DO AUTOR - 2013
Arte: Tom Colbie
Arte: Tom Colbie