Perguntas por que as partes obscenas não resguardo?
Pergunta então se há deuses que escondam o seu dardo!
O rei do mundo o raio sustém abertamente,
e o deus do mar não leva coberto o seu tridente;
nem Marte esconde a espada que o enche de coragem,
nem Palas guarda a lança na tépida roupagem.
Levar douradas flechas, a Febo envergonhava?
Tem Diana por costume tapar a própria aljava?
Oculta leva Alcides nodosa clava agreste?
O deus alado esconde a vara sob a veste?
Quem viu ocultar a Baco o tirso delicado
na roupa ou a Cupido com rosto disfarçado?
Então, não seja crime que a pica possas ver-me:
se me faltar tal lança, hei-de ficar inerme.
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Cur obscena mihi pars sit sine veste, requirens?
quaere, tegat nullus cur sua tela deus.
fulmen habet mundi dominus, tenet illud aperte;
nec datur aequoreo fuscina tecta deo.
nec Mavors illum, per quem valet, occulit ensem,
nec latet in tepido Palladis hasta sinu.
num pudet auratas Phoebum portare sagittas?
clamne solet pharetram ferre Diana suam?
num tegit Alcides nodosae robora clavae?
sub tunica virgam num deus ales habet?
quis Bacchum gracili vestem praetendere thyrso,
quis te celata cum face vidit, Amor?
nec mihi sit crimen, quod mentula semper aperta est:
hoc mihi si telum desit, inermis ero.
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[ TRAD.: CARLOS DE MIGUEL MORA]