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TRADUTOR

Tuesday, October 11, 2011

AQUELE CADERNO SOBRE A MESA DO CAFÉ


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A mãe tem anotado num caderno um verso de Jorge Luís Borges. Diz ser sua a escritura que une em uma única linha morte e festa. Nunca suspeitara da existência do bardo dos labirintos, Shakespeare, espelhos, neblina. E como se não bastasse a solicitação de um mesmo ritual para quando do uso das duas mais altas máscaras de partida e chegada, a mãe também está ficando cega. Os móveis da infância há muito não estão no lugar. A memória não os organiza mais como lembrança. A presença esculpida como um cemitério de gestos e o olho que começa a mancar na escuridão, são os dois últimos legados de uma estrada comprida, vista da janela pelo filho, cujo silêncio é um ensaio para outra morte.




Dyl Pires

Tira-gosto